sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Processo de Humanização

      O nascimento de uma criança é considerado um momento muito especial. Ele marca o início de um longo trajeto para a socialização da mesma, onde socializar significa interiorizar uma determinada cultura, tornando-se assim um verdadeiro ser humano, tanto biologicamente como simbolicamente. Assim, os recém nascidos vão construindo sua história através das suas aprendizagens e das suas vivências. Desse modo, o presente texto fará uma abordagem do complexo processo que nos faz tornar humanos, sendo que o principal objetivo será compreender um pouco desse percurso por qual todos nós passamos.



       Uma das características que difere o ser humano dos outros animais, é o fato da prematuridade de seu nascimento, pois ao nascer ele está imcompleto e é incapaz de sobreviver sozinho. Devido a sua fragilidade e a falta de preparo, ele é um ser insuficiente que precisa de cuidados o que o torna totalmente dependente. Opostamente a isso, acontece com os animais, pois esses já nascem preparados para sobreviverem. Seus extintos, são suficientes para que saibão o que fazer e como agir diante das dificuldades.



       Percebe-se aí uma aparente desvantagem dos bebês humanos com relação aos bebês animais. Como bem dito a desvantagem é aparente, pois, como os animais já nascem de certa forma prontos, programados instintivamente, eles não precisam de mais nada além daquilo que já é inato. Diferentemente, os seres humanos, que pelo fato de prematuridade, deverão aprender muitas coisas. Assim, esse aprender torna o homem o único ser capaz de construir uma história, criar, transformar e desenvolver.



          Angel Pino, aborda esse fato dizendo que:


Pode-se afirmar, então que a aparente condição de inferioridade e de prematuridade do bebê humano, em vez de constituir uma perda e um obstáculo ao seu desenvolvimento, representa, pelo contrário, um enorme ganho e um grande meio de desenvolvimento, uma vez que possibilita que possa ser educado, ou seja, que possa beneficiar-se da experiência cultural da espécie humana para devir um ser humano. Nesse caso, a aparente desvantagem em termos biológicos constitui uma vantagem em termos culturais. Isso se pode dizer de quase todas as funções biológicas: o fato de não estarem totalmente prontas no momento do nascimento possibilita que elas sofram profundas transformações sob a ação da cultura do próprio meio (2005, p. 46).

           Desta forma, sabemos que para a aquisição de uma cultura teremos que passar por um processo intenso de aprendizagem. Isso significa dizer que que nós seres humanos passamos por um momento zero cultural, onde tudo o que fizemos não passa de funções biológicas elementares, pois ainda não nos apropriamos dos elementos culturais, ou seja, não aprendemos nada.



          A partir disso, passamos por uma constante transformação das nossas funções biológicas elementares – que são aquelas involuntárias, como o choro de um bebê ou os seus movimentos descordenados, etc. – para as funções biológicas superiores ou culturais, e estas são as mais complexas, que devem ser aprendidas e fazem parte da nossa aprendizagem e do processo de socialização, pois é a partir delas que as coisas passam a ter significado e os nossos atos se tornam simbólicos. Angel Pino usa Vigotsky que diz:

[...] nem as funções elementares podem, por si mesmas dar origem ou acesso às funções superiores, nem essas são simples manifestações daquelas. As funções elementares se propagam por meio da herança genética; jáas superiores propagem-se por meio de práticas sociais [...] (2005, p.53).

           Assim, a criança passa por um duplo nascimento: um natural e outro cultural. Onde o nascimento natural é o simples fato de nascer biologicamente um ser da espécie humana; e o nascer cultural significa atribuir valores a esse fato biológico, interiorizando uma cultura e através dela trazer significações para as funções desenvolvidas.



         Com todo esse processo o ser humano se socializa e através disso, ele nasce com funções biológicas, aprende e desenvolve as funções culturais e mentais, e vive numa contínua humanização. Assim, concluímos que o homem não nasce homem, e sim se torna através do seu complexo desenvolvimento, e isso o levará para uma constante humanização tornando-se se assim um ser cada vez mais sociavél e cultural.
 Mari Musialowski



REFERÊNCIA: PINO, Angel. As marcas do Humano. São Paulo: Cortez, 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário